BRASILEIROS CRIAM MÉTODO CAPAZ DE REVELAR ALIMENTOS INGERIDOS NOS ÚLTIMOS 6 MESES, A PARTIR DA ANÁLISE DE UM PEDAÇO DE UNHA


A queratina reflete a ingestão alimentar dos últimos 
quatro a seis meses

Brasileiros criam método que revela o que foi ingerido nos últimos seis meses

Método criado no Brasil mostra o padrão alimentar de uma pessoa nos últimos seis meses a partir da análise de um pedaço de unha


Você sabia que sua unha contém informações referentes ao que você comeu nos últimos seis meses? Graças a um método desenvolvido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), a análise de um pequeno pedaço da lâmina que recobre a ponta dos dedos consegue decifrar boa parte dos alimentos ingeridos pelo organismo. A técnica ainda está no começo do seu desenvolvimento, mas, futuramente, poderá auxiliar exames e monitoramento de dietas, além de ajudar a fazer comparativos nutricionais de diferentes populações.

Luiz Antonio Martinelli, professor do Laboratório de Ecologia Isotópica do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), explica que o projeto surgiu de uma conversa com uma colega estrangeira. “Leciono uma disciplina sobre isótopos estáveis e, ao conversar com uma professora americana que também trabalha com esse tipo de pesquisa, tivemos a ideia de fazer esse trabalho, com o objetivo de comparar a dieta dos americanos e a dos brasileiros”, conta.

O professor explica também que métodos semelhantes já existiam, mas a ideia de usar a unha é uma inovação, que surge como alternativa para avaliar um período maior de tempo. “Esse trabalho é feito há alguns anos. Usamos essa análise para avaliar solos e plantas ou a quantidade de milho usada na fabricação de cervejas”, exemplifica. “Escolhemos a unha porque ela contém muita informação e é muito fácil de colher uma amostra”, acrescenta.

Para fazer a avaliação, um pedaço de unha é colhido e passa por uma limpeza cuidadosa em laboratório. Ele, então, é colocado em uma cápsula e levado para um aparelho chamado espectrômetro de massas, que realiza uma queima da amostra. “Com o material queimado, analisamos a quantidade de CO2 e nitrogênio. Com essas medidas, temos a razão isotópica”, diz Martinelli. “Com essa razão, conseguimos fazer uma interpretação e discriminar, por exemplo, a quantidade de proteína animal e de cereais e determinar os níveis de alimentação da pessoa.”

Diferenças sociais


Brasileiros criam método que revela o que foi ingerido nos últimos seis meses


Método criado no Brasil mostra o padrão alimentar de uma pessoa nos últimos seis meses a partir da análise de um pedaço de unha


Ao colocar o projeto em prática, o pesquisador realizou experimento inicial com moradores da cidade de Piracicaba (SP), comparando amostras colhidas de 273 voluntários de diferentes classes sociais. “Notamos que as classes mais altas tiveram uma ingestão de proteína animal maior do que as classes menores, o que achamos até um pouco fora do esperado, já que, hoje em dia, as pessoas de classes altas buscam dietas que têm menos carne”, diz.

O cientista acredita que o método pode melhorar as análises nutricionais comparativas realizadas atualmente. “Temos exemplos de estudos que ilustram as diferenças de padrões alimentares em diferentes níveis socioeconômicos. O que fazemos tem a vantagem de oferecer um método científico bem mais preciso”, justifica.

Ele pretende, agora, realizar análises em pessoas de todas regiões do país e traçar um panorama maior da dieta nas diferentes regiões brasileiras. “Nosso objetivo é saber quais as diferenças entre essas populações e assim comparar hábitos alimentares”, declara. Martinelli também acredita que o exame feito com a unha pode auxiliar o trabalho de nutricionistas e complementar exames. “Acho que esse método pode ajudar. Já trabalhamos com nutricionistas e podemos adaptar a metodologia. Não sairia caro, cerca de R$ 60 a R$ 70 a amostra. No entanto, nosso objetivo principal é descobrir mais sobre a dieta dos brasileiros”, destaca.

Sinais


Para Murilo Pereira, nutricionista e professor do Centro Universitário Iesb de Brasília, a técnica desenvolvida pela equipe da USP complementa técnicas que já existem, oferecendo dados mais completos e exatos de análise nutricional. “Esse método é bastante inovador, e o resultado obtido complementa técnicas anteriores, que somente apontam a quantidade de vitaminas e minerais. Com esse, temos a quantidade de proteínas e de lipídios, que são importantes”, avalia.

Pereira explica que a unha é uma fonte de dados já conhecida por deixar “rastros” de como anda a alimentação humana. “Sabemos que, quando a unha tem manchas brancas, isso aponta uma possível deficiência em zinco. Rachaduras no sentido horizontal também indicam uma diminuição de minerais. Esses são sinais que podemos interpretar somente a olho nu. Mas uma análise como essa impressiona por trazer dados mais exatos e por tanto tempo”, declara.

O nutricionista vê também uma possibilidade de uso da nova técnica em consultório. “Pode nos ajudar sim, mas em um contexto, com outros exames que nos ajudem a manter o controle do que o paciente está ingerindo. Até porque, podemos e confundir muitas dessas substâncias, que são encontradas em alimentos diversos. Teríamos que ter cuidado nessa análise, mas ainda assim seria interessante saber o histórico desse paciente nos seis meses passados”, complementa.


Fonte:http://www.em.com.br/app/noticia/tecnologia/2014/01/08/interna_tecnologia,485353/brasileiros-criam-metodo-que-revela-o-que-foi-ingerido-nos-ultimos-seis-meses

Pesquisadores analisam nutrição humana pelas unhas

Estudo investigou composição isotópica contida nas unhas de 273 pessoas, pertencentes a seis classes sociais distintas


O Laboratório de Ecologia Isotópica do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, testou uma nova e inusitada forma para se avaliar a nutrição humana. 

Uma pesquisa coordenada pelo professor Luiz Antonio Martinelli analisou a composição isotópica contida nas unhas de 273 pessoas, pertencentes a seis classes sociais distintas.

O estudo, que foi veiculado no Journal of Human Nutrition and Dietetics, publicação oficial da associação dietética britânica (The British Dietetic Association), abre as portas para que novas ferramentas sejam incorporadas aos métodos de se fazer avaliações nutricionais, pois, apesar de atingir um número grande de pessoas de uma determinada região, não fica restrita a levantamentos socioeconômicos ou a dados estatísticos.

Estudo sugere novas ferramentas aos métodos de avaliações nutricionais
— O estudo se valeu das unhas devido sua estrutura física, que é composta de queratina, proteína rígida que a forma e reflete a ingestão alimentar dos últimos quatro a seis meses de uma pessoa — explica Martinelli. 

— Então, a partir da utilização dos isótopos de carbono, foi possível decodificar o tipo de dieta praticado por cada uma das classes pesquisadas — conta.

Para os participantes dos grupos de classe com maior poder aquisitivo (A, B e C), a pesquisa se utilizou de alunos e funcionários do campus da USP em Piracicaba. 

Já os participantes das classes D, E e F foram selecionados com a colaboração de um programa de distribuição de leite do município e tiveram que ser entrevistados para que fossem identificados e separados por classe.

— Há vários exemplos de estudos que ilustram as diferenças de padrões alimentares como resultado dos diferentes níveis socioeconômicos de uma população específica. A análise aqui realizada tem a vantagem de observar os diferentes padrões de alimentação por meio de método científico preciso, comprovando que as diferenças na composição alimentar estão ligadas ao status socioeconômico — afirmou o professor.

Para o pesquisador do Cena, a avalição comprovou que não há diferença entre as classes de menor poder aquisitivo com as de alto poder aquisitivo, pois substancialmente consomem os mesmos produtos. 

— Podemos ter vários tipos de biscoito ou refrigerante no supermercado, uns mais baratos e outros mais caros, mas se avaliarmos esses produtos por seus constituintes básicos serão os mesmo, ou seja, a composição de isótopos estáveis será similar.

Segundo Martinelli, provavelmente, a falta de diferença estatística entre a maioria das classes sociais, com exceção da F, pode ser atribuída ao fato de que todos os participantes da pesquisa são residentes urbanos, expostos a uma dieta de supermercado, na qual todo item alimentício é de fácil acesso e a única restrição ao consumo é econômica, não um problema de acessibilidade.

As diferenciações apresentadas no estudo indicam alto consumo de carne bovina, pão, refrigerantes e derivados de leite pelas classes de maior poder econômico, bem como um alto consumo de óleo de soja, arroz e açúcar pelas classes de poder aquisitivo menor. 

— Porém, a maior discrepância encontrada entre as classes se deu entre os integrantes da F, que concluímos não consumir carne e laticínios, tendo uma alimentação composta basicamente por arroz e feijão — conclui.
AGÊNCIA USP
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